quarta-feira, 22 de julho de 2009

Seu coração pra sobremesa


Já fez cartas para dizer coisas entaladas entre juízo e sensatez, e mesmo assim a gravidade vai contra sua consciência, tornando-a com fardo que aponta um erro ou dois. Nada que se posicione como remorso, desculpas ou afins é capaz de reorganizar os fatos e situações dramáticas. A piedade não sente pena de ti, nem pena de si própria. Engolindo como um leviatã errante teus sonhos, ou o que sobrou deles, e digerindo junto com os bons modos e ideais que um dia ele devorou. Entrou na sala e viu algo que não lhe agradou, virou as costas sem ao menos refletir, visitou uma exposição de idéias e a pretensão virou uma luz ofuscante, te cegando com voracidade, a mesma de um predador se lançando com brutalidade sobre uma presa indefesa e inquieta. Distanciou-se, caminhou contra o sol, subiu até onde é quente demais pra pensar em dizer um “volta aqui”, em ziguezague esquivou-se da luz, caminhou contra o sol e mesmo assim não se queimou, só conseguiu sumir no calor de um astro e desaparecer da vista tão lentamente... se assemelhando a uma miragem. Não refletes mais nada em teu olhar, és um espelho falho. Tua cabeça foi dada de premio aos felinos, em forma de prepotência e monólogo, pois comunicação nunca foi um esporte praticado por todos. Os felinos se esbaldaram em um banquete frio e sem sabor. Seu olhar já tinha se perdido no fogo do sol, exatamente no mesmo momento em que suas feições haviam desaparecido da vista de quem olhasse contra a luz, mostrando que não podia se esperar somente coisas boas de um sorriso, até frustração se mostrava, aí o calor incomodava. Seus lindos braços caíram do céu, acenando da mesma forma delicada, e se esfacelando ao encostar o chão da mesma forma que qualquer ser já sem vida pela queda, teria se esfacelado. Agora não podes acenar um tchau. Suas pernas foram imersas em um lodo grudento, malcheiroso e com aparência de um pântano pútrido, onde os sonhos realmente apodrecem. Caminhando sem poder enxergar, adentrou a podridão do muco molhado, tão breve desceu e se encontrou imóvel, então lembrou que os braços não serviam só pra dar tchau, serviam pra pedir ajuda, serviam para estender uma mão amiga. O ego em forma de lodo tragou suas pernas. Seu tronco só, se encontrou no fundo de um imenso nada. Quando sentiu que não era exatamente isso que pensava pra ti, encontrou o coração teu a reclamar, sentiu que nem sempre era possível declarar ofensas sem enxergar o que lhe tenha ofendido, que não devias ter dado um tapa no rosto de alguém sem ao menos entender o quão intenso é esse impacto para uma alma, que não devia desviar seu caminho e andar contra a luz, contra teu futuro, passado e presente. Teu coração abdicaria de ti se fosse um ser pensante. Então ele pensou, emergiu das entranhas e saltou do teu peito em projeção ao que tinha como liberdade, largando um tronco vazio e sem mais ideais de uma boa vida a todos. O coração se lançou ao leviatã errante, tentando apagar as lembranças de como era viver em um corpo de aparência delicada, mas de punições tão duras à própria consciência. A piedade pra ele é não ser mais um coração pulsante de energia em um corpo que faz papel de casca vazia. Chegando a conclusão de que a sobremesa tem um gosto inesplicável, é sempre mais saborosa que o prato principal. 

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