quarta-feira, 13 de maio de 2009

Urso que não pensa.


“Penso noventa e nove vezes e nada descubro; deixo de pensar, mergulho em profundo silêncio e eis que a verdade me revela.”
                                                                                               Albert Einstein




O urso se achava normal quando criança, descobria coisas novas a cada dia, brincava bastante, comia feito um urso adulto, ignorava a existência de problemas assim como todos os filhotes em sua fase de filhotes. O urso crescia devagar, mas quando se deu conta já havia se tornado algo que ele não percebia que era, um urso grande, forte e que já podia matar muitos outros animais menores que ele. O urso não se acostumou com a idéia de ser um animal mais forte do que os outros, então resolveu parar pra pensar. Em suas reflexões ele chegou uma conclusão que pra ele era mais que elementar, “ursos não pensam”. Mas todo ser vivo pensa, já que tem um cérebro. Mesmo que agindo normalmente por puro instinto, o urso pensava, mas se recusava a aceitar. O urso resolveu então parar de pensar, tentou por dias e noites, por toda a primavera e todo verão. Quando não lhe restava mais estações ele resolveu esquecer aquilo, mas já era tarde, ele pensara mais que todos os ursos. Mal ele sabia que seu esforço pra parar de pensar foi uma alavanca para seu cérebro, ele ficara mais esperto a cada dia. O urso nadava em seus pensamentos, pra ele já não era como ser um urso, era como se o fato de “ser” alguma coisa não importasse, o importante era raciocinar de forma rápida e criativa. Em seus últimos dias de vida, após uma existência longa, o urso chegou ao auge de seus pensamentos e então concluiu que o urso era o urso mais ignorante do mundo, ele pensara que não era mais um urso. Todos diziam pelas longas florestas do sul que o urso não pensava mais, que ele achava não ser mais um urso. Sendo assim, no momento em que ele se sentira fraco, convocou todos pra assistir sua queda, e no momento antes de seu último pensamento ele disse à todos: “- Eu não penso, então não existo. Por que todos vieram ver um urso velho e moribundo? Não temam que eu vá, não chorem. Não é que seja egoísmo meu, mas vejo que alguns tem lágrimas nos olhos, isso já me diz muito. Tem sentimentos por mim? Não querem que eu vá pois sou uma figura comum a vocês, sentiram saudades. Me reconhecem como um companheiro maluco, mas me reconhecem como um urso, aí está, minha existência. Pensem que isso é o começo de um pensamento oscilante. Não pensem, assim não existam, talvez tenham a mesma sorte que eu tive, ter alguns que se ressintam por mim. Agora eu já vou, mas um dia eu volto, provavelmente em seus pensamentos, se for possível.” E até hoje o urso que não pensava é o urso mais lembrado nas florestas do sul. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário